terça-feira, abril 25, 2006

Coisas de gente grande


Nas costas permaneço durante horas, vendo o amarelo forte queimar-me a pele. As minhas pálpebras pesam a cada segundo e parto devagar ao som do riso das crianças. Os irmãos rodam e rodam sem parar e de repente o amarelo torna-se cinzento e depois bréu.
Iluminado apenas pelo queijo da noite, sinto uma presença muito familiar que me sussurra algo ao aouvido. Não sei bem o que me disse, mas senti um arrepiar saboroso por todo o meu corpo. Não lhe vi a cara, mas reconheci-a, era ela que me tinha vindo visitar. Não sei como soube onde que aqui estava, mas isso não importa, estava-mos aqui os dois, sós, com areia nos nossos cabelos, na nossa roupa, e não nos importámos pois sentiamo-nos tão bem, tudo parecia tão certo que cheguei a ter medo de voltar a ver o amarelo e que ela tivesse de ir.
Falei com o guardião do tempo, para o parar. Ele disse-me que isso era impossível. Aproveitei o pouco tempo que nos restava e deixei o meu coração falar, o coração dela ouviu e falou-me de volta. A uma certa altura o amarelo voltou, tinha acabado de acordar, notava-se bem, ainda estava cor-de-laranja e disse-me que já era dia e que tinha de ir embora, pois existem certos contras em ser gente crescida. Quis de imediato voltar a ser criança e depois pensei que como criança não podia entender as coisas que o meu coração dizia.
Talvez por estas razões, ou talvez por outra, trago sempre um miudo dentro de mim. Consigo trazê-lo à superfície quando preciso dele, mas ao mesmo tempo consigo conciliar a criança e o homem de forma a sentir-me sempre bem comigo mesmo. Mas às vezes, ou talvez na maioria dos casos, este bem estar não depende só de mim, depois ponho-me a escrever coisas estranhas e sem sentido como esta mesma linha e todas as outras acima desta.
Poderia optar por uma outra solução, mas quando se está o dia todo ao telefone, as possibilidades de alívio escasseiam e resta-nos a expressão escrita, que é válida tal como todas as outras, muitas vezes bem melhor.

As crianças sonham constantemente em ser adultas, em estar a trabalhar, andar de carro, serem polícias, herois, enfim... muitas fantasias são tornadas realidade nas brincadeiras do dia-a-dia. Relativamente aos adultos, não sei como pensarão os outros, posso apenas falar por mim, mas às vezes gostava de voltar a ter as mesmas preocupações que tinha quando era criança. Claro que depois volto atrás no tempo e penso nos meus tempos de puto, e toda a minha vontade de querer ser criança outra vez desaparece misteriosamente.
Podemos não acreditar, mas as crianças, cada vez mais, têm uma vida muito difícil, muito mais que a dos adultos, mesmo que não sofram de amor, sofrem de outras coisas bem piores, coisas que os adultos não conseguem suportar, mas os putos conseguem, eles são bem mais fortes que os crescidos. E à medida que crescemos as dificuldades da vida vão ficando menores.
E com toda esta meditação mais um dia passa. Ups! Não dei atenção nenhuma ao meu grande amigo amarelo, espero que ele entenda, é que ei estava com uma enorme crise existencial, é uma situação bastante normal, “happens to everyone”.
Dou por mim num comboio sem saber qual o meu destino. Também não me importei com isso, até gosto de viajar e conhecer novas coisas, até mesmo novas pessoas, se vir que essas pessoas não merecem a minha atenção não a darei. Cheguei ao destino e parece-me que conheço este local de algum lado. “Vou dar uma volta” – Pensei. E fui.
Visitei um local de peregrinação obrigatório, o café local. Parece que o grupo de jovens local estava dentro do seu horário de trabalho, pois abordaram-me e pediram-me um cigarro, como não sou rico disse que não tinha e pus-me a caminho.
Cheguei a um cruzamento e sem saber para onde ir, limitei-me a sentar-me num bandoi de uma paragem de autocarro e esperei. Não sabia ao certo pelo que estava à espera, mas supus que aquele era o local indicado para espera fosse pelo que fosse.
Nesta altura senti uma presença, igual à do outro dia, era ela novament. Falámos e andámos, não sei para onde iamos, mas eu queria ir e ela parecia tão feliz que o frio que eu sentia antes desaparecera.
Chegámos a um local familiar, pelo menos era a sensação que me dava, que eu conhecia aquele lugar. Bebemos um chá, e vimos um filme, depois o que se passou, não é para os olhos alheios. Apenas, e mais uma vez, ficou o queijo da noite como testemunha.

Wolf Spirit © 2006


Escrito numa noite louca de pseudo-trabalho no Clix, localizado perto do ElCorteInglés. Agora já não haverá desvaneiois destes, visto estar no lumiar, onde tenho net e messenger. oh yeahh


Desculpem o tempo de celibato literário, mas tou definitivamente velho e senil.

6 Comments:

Blogger polly_maggoo said...

gostei tanto q tivesses voltado à escrita é sempre bom ler-te e este texto texto meu deus, passa de um assunto para outro como uma corrente de pensamentos sem ordem para quem lê, apenas para quem escreve. espero q as tais noites no clix melhorem agora mais visto q tens net ehehhehe
beijão txi adoro gato

quarta-feira, abril 26, 2006 7:04:00 da tarde  
Blogger Ana Sofia said...

o menino anda completament desaparecido...entao o pseudo-trb rouba-te o tempo td é?lol...ai ai

segunda-feira, maio 01, 2006 12:27:00 da tarde  
Blogger Liliana Bárcia said...

"Nas costas permaneço durante horas, vendo o amarelo forte queimar-me a pele"... sorry... mas lembrei-ne do "nosso" AMARELO loooooool

forget lá isso... até q enfim palavras tuas.... ah e tal no clix n tenho nd pra fazer.... pois, assim aproveitaste bem o tempo e ainda fiquei aqui um bom tempinho a ler-te... :P

quinta-feira, maio 04, 2006 10:28:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Olha, nem sei muito bem como aqui vim parar...
Mas ainda bem que vim!
Adorei ler-te!!
Tb eu tenho uma criança que vive dentro de mim e resolve aparecer nas ocasiões mais inesperadas...
Beijos

domingo, maio 07, 2006 12:07:00 da manhã  
Blogger Noa said...

Olha, sinceramente, tb adorei "te ler". Espero que atualizes com mais frequência este espaço maravilhoso. Voltarei sempre.
:o) Bjs

quinta-feira, junho 01, 2006 2:24:00 da manhã  
Blogger Noa said...

Poxa, até quando vai durar esse celibato?????
Sou a noa, do forum, td bem?
Acho q somos parentes.
Anda lá, volte a escrever...

Bjs

quinta-feira, junho 22, 2006 1:38:00 da tarde  

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