sábado, novembro 05, 2005

Mundinho (o meu)


Sinto dentro de mim uma enorme energia, que necessito expelir do meu sistema, do meu corpo. Exercito-me, jogo futebol e através do suor que escorre pela minha face, através dos meus músculos contraidos, atinjo aquele alívio tão esperado. Um alívio que me faz ficar cansado e com vontade de dormir, que me traz vontade de descançar, de repousar e serenamente encerro a minha visão para uma paz de espírito, um aconchego merecido.
Este é um tipo de necessidade que tenho e que com facilidade consigo aliviar, satisfazer, saciar. Outra necessidade é a fome, a sede. Estas também são fáceis de controlar. Basta-me apenas encontrar algo comestível, algo potável, porque graças a Deus tenho isso tudo disponível.
No fundo, as necessidades que tenho e que estão de certa forma, inerentes à condição humana, são relativamente fáceis de contronar. No entanto existe um senão, existe sempre um senão, uma contrapartida, uma lei estúpida ou uma regra de etiqueta, uma directiva muito ´difícil de ser esquecida, de ser posta de lado, falo de um mundinho isolado no meio de tudo o que é absurdamente vulgar. Este mundinho contém dentro dele tudo o que dá significado à vida, este mundinho contém, no fundo, a própria condição humana. O mun dinho está dentro de nós e tudo o que ele tem dentro dele, transmite quem somos nós. Humanos, capazes de sentir, chorar, sorrir, viver.
Eu tenho dentro de mim, como todos nós, muitos sentimentos guardados nesse mundinho, muitos sentimentos que também, e à semelhança da energia, têm de sair cá para fora, para fora das muralhas dessa fortaleza que é o mundinho. Mas esses sentimentos por vezes tardam em sair, tardam a ser traduzidos em palavras, em gestos, em olhares, em palavras. Por vezes só mesmo as palavras, escritas numa manhã escura de verão, com uma caneta de carvão, numa folha salpicada do jantar de ontem à tarde, são escritas traduzindo alguns sentimentos. Mas são escritas de uma forma estupidamente sublime, que faz com que ninguém perceba que também sou gente, e por vezes nem eu sei que sou gente, que sinto, que sofro, que morro de amores pelo reflexo do espelho quando não emoldura o meu retrato. Mas sou de carne e osso, tenho um mundinho como todos têm, e preciso, como todos, espalhar todo o meu interior, todo o meu mundo.
E sentimentos tais como o amor, o ódio, a dor, a mágoa, a felicidade, o ciúme, o sorriso, o calor humano, a amizade, a angelicalidade, a tontice, o humor, a criancice, a seriedade, não são totalmente exteriorizados, não são totalmente revelados, não são totalmente demonstrados. Por vezes têm mesmo de ser racionalizados e pensados, tornando-os destrocidos e banais.
É através da escrita, que mesmo não sendo a minha vocação (como se tal coisa existisse) é uma espécie de paixão, que melhor me exprimo, mas é através das acções que melhor me entendem, que melhor faço passar o meu testemunho sentimental e interiorizado para o exterior. Por isso se me queres conhecer, se queres ver o meu mundo, não me peças para o demonstrar, para te dizer, pede-me antes para to escrever.
Uma palavra pode não valer muito, um gesto pode valer mil palavras, mas um sorriso do lado esquerdo do coração faz com que a vida tenha mais cor, e que tenhamos vontade de sorrir de volta. Por isso mais vale uma folha com mil palavras do que um coração tristonho.

*~Pensamentos de um lobo~*

lobito

3 Comments:

Blogger polly_maggoo said...

as palavras escritas tem uma solidez que as faladas nao tem, e concordo contigo em que ha situacoes que pedem para que escrevamos e que nao falemos. que nos entreguemos silencios como prendas arrancadas do ventre. por apesar de doer oferecer silencios, as vezes e so o que temos para dar.
nao quero muralhas, nem barreiras nem vontade de te calares. quero so que uives muito e bem alto, de prazer, de dor, de amor, de tudo, porque te quero sempre no teu maior e melhor e nunca numa ponte intermedia entre o sim e o nao. foi o texto que mais gostei ate hoje sabes?:)*
adoro-te mais que a lua:)e guardo-te no meu coracao sempre sempre. fazes-me filiz:)*
maggoo

sábado, novembro 05, 2005 3:46:00 da tarde  
Blogger Ana Sofia said...

Gostei...talvez o grande desafio seja mesmo conseguir ultrapassar as coisas vulgares...conseguir ser feliz nesse mundinho...a escrita já te ajuda...:) mas será que ficas por ai?

ADOREI a imagem...

jokas po pimoko

sexta-feira, novembro 11, 2005 2:26:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

'Porque não há maior desejo num homem do que revelar-se a si mesmo, ser compreendido pelo seu próximo; todos nós queremos que a luz que colocamos atrás da porta seja posta no meio da sala, à frente de todos.'
Kahil Gibran, adaptado por Paulo Coelho, in 'Cartas de Amor do Profeta'

Achei que tem a ver com a necessidade que transmites no teu texto, de sermos compreendidos plenamente pelo outro e de o compreendermos!
Gostei do teu textinho!Fica bem

segunda-feira, novembro 14, 2005 6:10:00 da tarde  

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