domingo, julho 24, 2005

Quebrar é a constante da vida



Quebro de manhã, quando acordo a chorar
E penso nas palavras de ontem, e nas de amanha
Prometo a mim mesmo que terei forças para ti
Prometo que não irei prometer mais aquilo que não posso cumprir
Levanto-me então bem devagar, e quebrado vou caminhando
Dou um passo a frente por cada dois que dou para trás
Volto a cair na cama, e quebrado deixo-me dormir novamente

Quero ser, quero fazer, quero acontecer, quero acreditar
Mas a única coisa que faço, a única coisa que digo
São as coisas que consigo, são apenas parvoices
E lá me levanto, todo quebrado, quase afogado
E com passos curtos, encaminho-me para a realidade

Quebro de tarde, quebro de noite, quebro a toda a hora
E sem saber porquê, vou quebrando constantemente
Quebro por tudo, quebro por nada, quebro por tudo e por nada
Que faço aqui, n faço falta a ninguém
Estar ou não estar, ser ou não ser, não é nenhuma questão
Vou-me ficar mesmo pela negação
Pois não estou, não sou ninguém

Sou apenas um ninguém quebrado, que quebra sempre e a toda a hora
Quebro de dia, quebro de tarde, quebro de noite
Quebro constantemente e a toda a hora
Pois quebrar é a constante da vida

sábado, julho 23, 2005

De costas voltadas


Corri para um passado longínquo que me parecia tão próximo
E de costas para o mundo olhei para ela partir
Vi-a sair por aquela porta que não se voltou a abrir
E de costas voltadas tentei sair atrás dela, pela porta fechada

A porta não tinha fechadura, nem maçaneta, nem trincos
A porta estava fechada e sem forma de a voltar a abrir
A porta não era de madeira, nem de ferro, nem de plástico
A porta estava fechada e eu de costas voltadas

De costas voltadas para o mundo, para o exterior
Sofri sem saber porquê, Sem saber chorar
Sofri em silêncio, em agonia, e tudo interiorizei
De costas voltadas, chorei para dentro de mim

Sabia que havia um mundo paralelo ao que eu conhecia
Um mundo cheio de coisas novas, e diferentes para mim
Um mundo que eu desconhecia por completo
Um mundo que no fundo também era meu

E de costas voltadas caminhei para a frente da parte de trás de mim
Choquei contra algo meigo, suave, doce
Algo quente caiu, algo terno e acolhedor
Tinha de fazer alguma coisa mas tinha as costas voltadas

Decidi voltar-me, e fiquei de costas voltadas para a porta
Qual porta? Qual dor? Qual agonia? Só te via a ti agora.
Só via uma beleza inconfundivel, uma beleza extraordinária
Uma beleza interior, que se exteriorizava por completo

E de costas voltadas para o sitio correcto, te amei
Pela primeira vez em anos, eu estava no caminho certo
Pela primeira vez, encontrei uma razão para ser feliz
Fui para outra estrada, outro corredor, outra divisão

Fugi desta casa assombrada que muitos chamam vida
Entrei num mundo de fantasias contigo, num mundo mágico
E agora de costas voltadas, sorrio novamente, sinto-me bem
De costas voltadas, desta vez, para o passado, caminho contigo no futuro.

quarta-feira, julho 20, 2005

Com meus pés descalços



Dou um passo depois do outro, com meus pés descalços
Caminho em direcção ao futuro, com meus pés descalços
Abro portas, fecho janelas, entro e saio, salto, sento-me, com meus pés descalços
Saio porta fora, e entro nos corações, com meus pés descalços

Com meus pés descalços
Queimo-me no vazio de um deserto escaldante
Conheço-te melhor, e ao outro e a todos
Conheço-me a mim mesmo
Dou mais um passo, e outro, tudo com meus pés descalços

Sinto o cheiro da maresia, do orvalho da madrugada
Sinto o aroma de pétalas, do pólen, das próprias abelhas
Sinto a dor dentro de mim, dentro de ti
Sinto o amor, o desespero de não te ver
Sinto o ardor de feridas passadas, com meus pés descalços

Com meus pés descalços, continuo a caminhar
Cada vez com menos medo do caminho
Cada vez mais forte, mais confiante
Cada vez menos assustado, menos receoso
Cada vez com mais vontade de me ver a olhar para ti
Sempre com meus pés descalços

Descalço-me de manha
Descalço-me de tarde
Descalço-me de noite

Foi descalço que entrei no teu coração
E lá descalço permanecerei

terça-feira, julho 19, 2005

A minha força


Abro a janela do meu quarto
Sinto a brisa que vem de sul
Sinto o teu aroma no ar
Consigo ver-te para além deste mar que nos separa
Deste fumo que se levanta, e me faz tossir
Deste sol tímido, que se esconde atrás das núvens
Estás divina, a olhar para o horizonte

Olho então através destes obstáculos que se levantam
Mas a tua força, a tua beleza, supera tudo
E dás-me forças, para te ver melhor

Fecho então os olhos, e sinto-me planar, pairar
Abro os olhos, e não tenho medo, não me assusto
Sinto uma força enorme ao meu lado
És tu? Como podes ser se estas do outro lado?
Do outro lado do mar
Do outro lado do mundo

Aqui ao pé de mim sinto uma força, que é tua
Sinto uma força minha, que é tua
Sinto um calor fulgurante, que me aquece
Aquece nesta noite fria, neste gelo que se sente
E contigo a dares-me a mão, tudo é perfeito
Não ha mais fumo, o sol sai de trás das nuvens
As próprias nuvens criam coroas que colocamos
Sinto-me rei, de quem és tu a rainha
Deixa-me voar mais um pouco contigo

A noite acaba e dentro de momentos vou acordar
Ao meu lado a solidao, descansa para me atormentar de dia
E só de noite tenho paz, contigo
E só contigo me sinto livre

Acordo
E aguardo perseverantemente a chegada da lua
A chegada das estrelas, a chegada da noite, a tua chegada
Espero por ti, nos meus sonhos, na minha alma
Sei que vens, pois estás já dentro de mim.
E dentro de mim ficarás

segunda-feira, julho 18, 2005

Falar é diferente de pensar


Falo o que não penso

Penso e não digo nada

Nada pode correr bem assim

Criam-se espectativas, desfazem-se barreiras

Tiram-se as máscaras, saram-se feridas

E ficamos os dois, a falar, a rir, a mimar

No fundo ficamos a confidencializar

Sorrimos, os dois

Choramos os dois

Cantamos, dançamos, enfim

Estamos juntos todos os dias em pensamento

Penso em ti e nao te digo

Não sei se é recíproco, mas também não deves saber

E vivemos num mundo chamado “ses”

Quando algum de nós tenta colocar o pé fora do “ses”

Levantamos muralhas, colocamos máscaras

Quebramos com medo de algo irreal

Ou talvez não, ninguem sabe ao certo

Tenho medo não sei do quê

Uma reacção indesejada

Uma falha qualquer, não sei ao certo

E por isso não falo do que sinto, do que penso, do que devia

És tu e só tu o meu anjo do momento

Não fujas, não vás embora, fica aqui comigo

Fujamos os dois

Leva-me contigo e vem comigo

Daqui para fora, daqui para fora

Partamos para dentro nas nossas cabeças se necessário

Para onde quizeres, desde que seja contigo

A Rua Da Minha Vida


Descia a rua em direcção ao pico

Nunca parei para descansar, e pensar

Nunca olhei para trás, nunca os ouvi

Nunca pensei chegar ao fim da rua

Nunca pensei terminar, nunca pensei

Um dia, depois de tanto descer,

Pensando eu que estava a subir,

Cheguei a um beco sem saída

Tive de parar, tive de terminar


Agora subo a mesma rua

Sempre a subir

Custa muito subir, custa muito crescer

Mas continuo a subir a rua

Rua que desta vez não vai terminar


Enquanto subia olhei para trás

Quebrei, passou, voltei a subir

Vou conhecendo anjos, tão lindos que são

Ajudam-me a subir

Não quero chegar ao fim não quero parar de subir


Posso parar, posso quebrar e olhar para trás

Mas nunca, nunca vou voltar a descer

Posso quebrar vezes sem conta

Mas quebrarei a subir, a crescer.

Meu Anjo Real


Conheci um anjo
que magnífico ele é, tão real
É um anjo de carne e osso
tem as asas sujas, cinzentas, com falta de penas
mas é tão lindo o meu anjo, tão real
fuma cigarros enquanto me salva
Adoro o meu anjo, ele é tão real
Às vezes ele leva-me a passear
A passear num sonho
Num sonho dentro da minha imaginação
Imaginação que fica fertil na presença do meu anjo
Anjo que é lindo, tão real

Um dia disse ao meu anjo:
- "Cuidas de mim e eu cuido de ti"
O meu anjo quebrou
Suas lágrimas eram quentes, tão reais
abraçá-mo-nos e voámos
Voámos para o infinito da nossa imaginação
E lá ficámos a voar, a pairar
Eu e o meu anjo, tão real

Sonho Utópico


Desci as escadas, e vi-te ao fundo

Estavas sentada numa cadeira de baloiço

E a seneridade que te envolvia, encheu meu coração

Deixei-me ficar no fundo das escadas

E vi-te baloiçar, vi-te de longe

Uma paz de espirito, invadiu-me a alma

E ficamos os dois, contentes, juntos mas sós

Adormeces-te

E fui-me aproximando, cada vez mais

Que anjo eu deslumbrava

Tua presença transbordava beleza

Sentei-me a teu lado, numa cadeira que la havia

E sem tu saberes, peguei na tua mão

Suspiraste, e eu tremi

Não queria acordar-te, não queria despertar um anjo

O tempo foi passando

Encostei minha cabeça em tuas pernas

E fechei os olhos

Senti calor dentro de mim, senti paz dentro de mim

Senti uma felicidade desmedida dentro de mim

Senti teu corpo voluptuoso, senti tua pele aprazível

Dentro de mim

Deixei-me dormir como uma criança

E em teus braços sonhei, numa utopia de sentimentos

Onde o amor e o afecto preponderariam

Não quero mais acordar

Não quero mais sofrer

Não quero mais ver o mundo real

Este mundo é perfeito

Este mundo é só meu...e teu...

Louco


Conheci um louco, preso entre quatro paredes

Dizes-me que ele não é livre

Pois está enjaulado, não pode sair para nada

Dizes-me também que ele é doente

Que não sabe nada

Eu é que não sei nada

Tu não sabes nada

Eu não sou livre

Tu é que estas enjaulado

Ninguém sabe aquilo que afirma saber

Ninguém vive enjaulado

Podes-me vir com as tuas teorias

Teorias acerca da liberdade

Liberdade que é um bem adquirido

Pois são mentiras

Pois o louco é mais livre que tu

Pois ele sabe daquilo que desconheces

Pois na verdade ele não sabe nada

Tu sabes tudo por sinal

Se queres saber

Eu sou o louco

Tu és a jaula!

Uma Página Rasgada


Sou uma página de um livro aberto

De onde estudas-te para no teste passar.

Muitas vezes choras-te e sobre mim tuas lágrimas derramas-te,

E eu sem te pedir nada em troca

Sempre te dei tudo o que tinha.

Sou uma pagina, novinha e a estrear,

Onde tu escreves tudo o que aprendes.

Onde tem tudo o que é preciso para ti,

Onde encontras o significado para a vida.

Mas sou apenas uma página, como tantas outras feita de papel.

Muitas iguais a mim existem, embora seja para mim que olhes

E que chores quando não precebes.

Sou uma página de papel

Cheia de letras e palavras

Palavras que compõem frases, exprimindo aquilo que sentes.

A matéria está dada, bem estudada e passada.

Para que serve agora uma pagina velha já sem significado.

Rasgas-me do teu livro, amachucas-me como uma outra qualquer.

Agora tens outras novas e limpas onde podes escrever outras coisas.

Outras páginas estão na tua vida, para que me queres a mim agora?

Nem pelo que fiz por ti? Nem pelo que te ajudei?

Já não sirvo para nada!

Já não sou uma Página

Sou uma simples folha que foi rasgada e mandada para o lixo

Já não sirvo para nada

Já não sou a tua página!!!